Percurso afetivo + Desbafos carnavalescos!

Cristo Redentor, sempre de braços abertos!

Quando dizem que o carioca é simpático, hospitaleiro e recebe todo mundo de braços abertos não é mentira. Pode parecer convencimento demais da minha parte, mas eu assumo que sou a prova disso! Minha vida é cercada de 'conexões' - onde muitas delas nem eu mesmo sei explicar. Atraio gente boa! Estava eu sentando na minha poltrona do vôo Lisboa - Rio de Janeiro, quando meu companheiro de viagem do banco ao lado chegou, e imediadamente abriu um tradutor de alemão-português. Formalidades iniciais de lado, começamos um papo (...em inglês!) e então em 20 minutos nossas vidas já tinham sido resumidas. Suíço, estava indo ao Brasil encontrar um outro amigo para passar o carnaval  e rodar pelo estado do Rio de Janeiro. Contatos trocados e dois dias depois já estávamos tomando uma cerveja na Lapa. No dia seguinte não pude acompanhá-los em um bloco pré-carnavalesco e foi então que eles conheceram um grupo de cariocas. Papo vai, papo vem, acabaram mencionando que conheceram um outro carioca chamado Felipe (...eu!), que morava em Milão. Pronto! Uma das pessoas do grupo perguntou: "...Felipe, arquiteto, que mora em Milão?!". Coisa de Rio de Janeiro... Eles conheceram 'por acaso' um grupo de amigos meus no bloco! Não é surreal?

...E aí estão eles admirando a beleza do pão de açúcar!

...E por uma eventualidade da viagem, ficaram sem hotel por 2 dias. Como por aqui é verão e carnaval, estava praticamente impossível encontrar acomodação por um preço 'pagável', digamos assim. Acabaram encontrando um hostel em Petrópolis! Gente, gringo sofre por aqui... Falei: "Petrópolis?! Você sabe onde é isso?". Já sabem o fim da história? Sim, eles vieram aqui para a minha casa. Tem que ter um feeling muito bom para abrir as portas de casa para pessoas que você mal conhece. Mas meu 'raio x' não falha, e eu jamais faria o convite se não sentisse uma energia boa. Eles vieram e foi muito bom! Educadamente trouxeram flores, vinho e alguns quitutes para meus pais, em agradecimento pela hospedagem - gostei da atitude. Já no dia seguinte, estávamos nós (...com minha mãe e minha tia!) em pleno Cordão da Bola Preta curtindo o mais tradicional carnaval carioca. E a sintonia se extendeu ao meu irmão e todos os meus amigos. Em breve estaremos próximos no eixo Milano-Zurich, e com certeza com muitas outras histórias para contar. Tem como explicar isso?

 Filippo Simoncelli + Eu, em Verona.

Bom, já que o assunto é 'conexão', vamos a um outro "causo". Em 2009 quando decidi morar na Itália, queria conversar com um Italiano para saber questões burocráticas da vida em Milão - E não podia ser brasileiro que morou na Itália! Queria um 'nativo'. E nas andanças virtuais, encontrei um simples currículo, de um arquiteto italiano, formado pelo Politecnico de Milão, e que entre outras coisas, tinha feito um intercâmbio cultural em Massachusetts (...onde eu também fiz!). Naquele tempo eu nem sonhava em falar ou escrever em Italiano e pensei: "...morou em Massachusetts, logo fala inglês". Apostei nele! Após um e-mail de apresentação, nos adicionamos no skype e desde então o Filippo se tornou um grande amigo, até então virtual. Uma paciência ímpar e uma vontade de ajudar admirável. E a partir dele ganhei outros contatos na Itália, como o seu então flatmate alemão Tim Reusch. Passamos muito tempo nos comunicando até que nos encontramos pessoalmente em abril do ano passado, em Verona, cidade onde moravam juntos. Depois nos vimos outra vez em Verona (...com a minha mãe e minha tia!) e ficamos sempre em contato. Coisas em comum entre os 3? Muitas. A começar pela Itália, a profissão de arquiteto, a paixão por viajar e por Nova York. Querem mais?

...E agora o trio: Filippo + Felipe + Tim!

...de 2009 quando eu ainda morava em 

São Paulo para a bella Verona, Itália!

No meio deste furacão em que se encontra minha vida milanesa atual, recebi uma mensagem do Tim, dizendo que tinha feito uma entrevista em Roma e que se tudo desse certo deixaria Verona por Milano. Obviamente precisaria de uma casa para morar. E aí eu entrei em cena mais uma vez! Como a proprietária do nosso apartamento atual nos pediu para deixá-lo pela decisão de venda, a vinda do Tim a Milano veio a calhar. Decidimos morar juntos! Olhem as conexões aí, minha gente! ...De uma simples conversa virtual em 2009, amizades surgiram, interesses em comum ganharam força e nos encontraremos em Milão. Eu acho fantástico todas essas 'coincidências' que a vida me dá (...e eu sei aproveitar!). Estou muito feliz com este momento de renovação na Itália... Vir ao Brasil, me encheu de forças para voltar e (re)começar uma nova fase! Muitas conexões ainda estão por vir. Tenho certeza de que terei agradáveis surpresas nos próximos meses. E essa 'trama' formada por conexões vai me levar aonde eu quero chegar. Seja bem vindo Tim! Aguardem cenas dos próximos capítulos...

"Tupy or not tupy? That's the question".

Como diria o velho samba 'Sonhar não custa nada... ou quase nada!". Carnaval é isso aí: sonho. Cinco dias de festa para se desprender da realidade e entrar de cabeça na ilusão. Pobre vira rei, homem pode se vestir de mulher, vovô pode ser bebê de novo... E eu decidi virar um SAPO 'banhista' - foi simplesmente maravilhoso! ...Talvez minha ligação maior com o Rio de Janeiro (...além da minha família!) seja o carnaval. Nunca liguei muito para a praia, para o futebol e muitas outras 'carioquices'. Mas o carnaval sempre esteve presente. Influência grande da família, com certeza, e também pelo sangue negro que corre nas veias (...ah! Adoro um batuque, uma macumbinha, um samba, etc...). Sou apaixonado por esta festa e todas as manisfestações cariocas que se desdobram com ela. Do luxo das grandes escolas de samba, ao bafo da onça na Avenida Rio Branco, aos blocos de ruas e os extintos concursos que fantasias do Hotel Glória. Não abro mão de passar pelo Bola Preta na manhã de sábado de carnaval! Prezo pela tradição e desprezo absolutamente alguns blocos da zona sul carioca com seus pit-boys bombados tatuados sem camisa, prontos para estragar o clima de festa com seus instintos animais (...generalizo SIM!). E porque não virar um sapo?! Fiz sucesso! Foram muitos os pedidos para tirar foto junto. Encarnei o personagem mesmo! ...E agora pago o preço disso com minhas coxas doloridas de tanto fazer 'pose de sapo'! Mas valeu! ...E como!

 Beijei uma sapa, ganhei beijo da princesa e encontrei Freddie Mercury!

"...É por ti que a Mocidade canta,

Portinari, minha aquarela...

...Seu nome será imortal,

em nosso carnaval!".

  Samba da Mocidade Independente 2012.

Ih, e as escolas de samba?! ...Deu Tijuca! Como um tijucano, fico feliz com a vitória deles, mas desaprovo absolutamente esta forma de fazer carnaval. As escolas de samba viraram um 'show' comandado por cenógrafos, coreógrafos, 'malabaristas'... Triste, muito triste! Se essa é a evolução das escolas de samba, eu prefiro parar no tempo! Destaco o desfile da Mocidade Independente, não apenas por ser minha escola do coração, mas por ter carnavalizado a obra do mestre brasileiro Portinari. Gosto quando acontece esse casamento de arte com carnaval. Portinari dispensa apresentações, e conseguir carnavalizar (...com aquela competência!) sua arte é muito difícil. Quando penso em Portinari, logo me vem à cabeça aquele painel de azulejos gigantesco presente no Palácio Capanema, aqui no Rio de Janeiro. Tiro o meu chapéu para Portinari e para a Mocidade Independente de Padre Miguel. Para mim, vocês são primeiro lugar!

 "...Concha e cavalo marinho. Azul e branco..." - Vinícius de Moraes.

Junte Oscar Niemeyer com compasso; Lúcio Costa com esquadro; Carlos Leão na prancheta; Ernani Vasconcellos com a lapiseira; Reidy com pincel; Jorge Moreira Machado com nanquim; Le Corbusier com papel Canson e Portinari com a aquarela - só pode dar SAMBA, e dos bons, daqueles inesquecíveis! Arrisco a dizer que é meu edifício favorito no mundo inteiro - pela elegância, pela brasilidade, pela ousadia e proporção! ...Palácio Gustavo Capanema!

"...Nunca fomos catequizados.

Fizemos foi carnaval!"

"...Antes dos portugueses descobrirem o Brasil,

o Brasil já tinha descoberto a felicidade.

A alegria é a prova que nos move". 

Trechos do Manifesto Antropófago, Oswald de Andrade, 1928.

Pegando carona no assunto de artes e grandes pintores brasileiros, por acaso hoje vi a exposição de Tarsila do Amaral, no Centro Cultural Banco do Brasil. Exposição de encher os olhos e ter orgulho de ser brasileiro! Roubei o título da exposição para nomear este post: percurso afetivo. Sigo meu 'percurso' milanês, com minhas "conexões" e minha relação de amor (...e algumas vezes ódio) com a Itália. Deixo uma imagem de um quadro exposto chamado "carnaval em madureira" - achei que combinava com este post de desabafos carnavalescos. Salve Portinari! Salve Tarsila! Pintaram o Brasil, elegantemente!

Fã incondicional de seus traços e combinação de cores... Babem!

Ouvido atento - Escutei duas senhoras comentando

 um croqui da Tarsila, exposto na parede, e

 termino este longo post com o comentário:

"...É muito pouco traço 

para dizer muita coisa!".

...Abraços carnavalescos!
Seguindo em frente!

(+ fonte fotos | arquivo pessoal + google images)